... porque barriga de grávida não é corrimão!

Para A.


Sou dessas criaturas antissociais (seja lá como se escreva isso nas novas normas gramaticais). Não sou de abraços e beijinhos com qualquer pessoa sem intimidade, respeito a integridade física e emocional dos outros.

Eu não imagino em que ponto do percurso a grávida vira patrimônio público; já li que o desejo enorme de as pessoas participarem um pouco da vida do bebê, uma criatura que inspira cuidados. Pode ser também o desejo de parecer importante, inteligente, vivido. Não sei, mas é irritante.


http://www.mama-is.com/page/46/

Afinal, todo mundo é vidente. Todos tem uma mandinga ou simpatia para descobrir o sexo do feto, ou então seu peso atual. E não importa o que foi visto na ecografia, sempre há o caso da vizinha-da-manicure-do-cachorro-da-vizinha com um causo peculiar.

Não somos mais uma pessoa 'humana'. Somos uma barriga ambulante. Param o tempo todo para comentar o tamanho do bebê, qual via de nascimento deveríamos escolher (????), assustam com todas as histórias possíveis de partos mal-sucessidos e bebês inacreditavelmente difíceis de lidar. Como se tivéssemos dado alguma intimidade!

Pintam com cores grotescas o quão terrível e difícil foi a sina dessas mulheres. Não entendo. Como é que a humanidade sobreviveu a todos esses séculos, todo esse tempo? Porque a natureza é uma burra, nosso corpo é um zero à esquerda nessa coisa de sobrevivência. Se o parto é um evento assim tão terrível, por que é que se continua a fazer filhos?

Se não quer acordar a noite, dar mamá, vai botar filho no mundo pra que? Pra deixar chorando abandonado? Pra bater e xingar? É pacote completo: quem é mãe é mãe por inteiro, não tem como ser menos.

E a barriga, então? Deve ter ímã, porque muita gente passa a mão até sem pedir. Aff. A barriga é minha, o filho é meu, tire as patinhas cheias de germes que desconheço do meu território. Como eu tenho que me sentir sou eu que decido. E, é claro, sempre podemos passar a mão na barriga da outra pessoa para ver se ela se toca.

De médico e técnico de futebol todo mundo acha que tem um pouco. Agora no campo maternagem, acreditam piamente que sabem mais do seu bebê do que você e mesma- que, por sinal, nem bebê é, e sim uma barriga saltitante.

Ah, claro, fofa. Não é porque seus 2937192836 filhos sobreviveram à você que você fez do melhor jeito.

Recomendo a todos que leiam meu relato de parto. Dá para ter uma noção do meu estado =D

1 comentários:

Alini Ploszaj disse...

Post fantástico, realmente como as pessoas se importam com nossa barriga, nosso bebê, etc... :)
Se cada um se importasse mais com seu umbigo ou transmitisse pensamentos positivos, mas não... todo mundo tem uma história tenebrosa de parto! :)
Adoro ler seu blog!

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