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A cólica - Por Dr. González

Os bebês ocidentais costumam chorar bastante durante os primeiros meses, o que se conhece como cólica do lactente ou cólica do primeiro trimestre. Cólica é a contração espasmódica e dolorosa de uma víscera oca; há cólicas dos rins, da vesícula e do intestino. Como o lactente não é uma vesícula oca e o primeiro trimestre muito menos, o nome logo de cara não é muito feliz. Chamavam de cólica porque se acreditava que doía a barriga dos bebês; mas isso é impossível saber. A dor não se vê, tem de ser explicada pelo paciente. Quando perguntam a eles: “por que você está chorando?”, os bebês insistem em não responder; quando perguntam novamente anos depois, sempre dizem que não se lembram. Então ninguém sabe se está doendo a barriga, ou a cabeça, ou as costas, ou se é coceira na sola dos pés, ou se o barulho está incomodando, ou simplesmente se estão preocupados com alguma notícia que ouviram no rádio. Por isso, os livros modernos frequentemente evitam a palavra cólica e preferem chamar de choro excessivo na infância. É lógico pensar que nem todos os bebês choram pelo mesmo motivo; alguns talvez sintam dor na barriga, mas outro pode estar com fome, ou frio, ou calor, e outros (provavelmente a maioria) simplesmente precisam de colo.

Tipicamente, o choro acontece sobretudo à tarde, de seis às dez, a hora crítica. Às vezes de oito à meia-noite, às vezes de meia-noite às quatro, e alguns parecem que estão a postos vinte e quatro horas por dia. Costuma começar depois de duas ou três semanas de vida e costuma melhorar por volta dos três meses (mas nem sempre).



Quando a mãe amamenta e o bebê chora de tarde, sempre há alguma alma caridosa que diz: “Claro! De tarde seu leite acaba!”. Mas então, por que os bebês que tomam mamadeira têm cólicas? (a incidência de cólica parece ser a mesma entre os bebês amamentados e os que tomam mamadeira). Por acaso há alguma mãe que prepare uma mamadeira de 150 ml pela manhã e de tarde uma de 90 ml somente para incomodar e para fazer o bebê chorar? Claro que não! As mamadeiras são exatamente iguais, mas o bebê que de manhã dormia mais ou menos tranquilo, à tarde chora sem parar. Não é por fome.

“Então, por que minha filha passa a tarde toda pendurada no peito e por que vejo que meus peitos estão murchos?” Quando um bebê está chorando, a mãe que dá mamadeira pode fazer várias coisas: pegar no colo, embalar, cantar, fazer carinho, colocar a chupeta, dar a mamadeira, deixar chorar (não estou dizendo que seja conveniente ou recomendável deixar chorar, só digo que é uma das coisas que a mãe poderia fazer). A mãe que amamenta pode fazer todas essas coisas (incluindo dar uma mamadeira e deixar chorar), mas, além disso, pode fazer uma exclusiva: dar o peito. A maioria das mães descobrem que dar de mamar é a maneira mais fácil e rápida de acalmar o bebê (em casa chamamos o peito de anestesia), então dão de mamar várias vezes ao longo da tarde. Claro que o peito fica murcho, mas não por falta de leite, mas sim porque todo o leite está na barriga do bebê. O bebê não tem fome alguma, pelo contrário, está entupido de leite.



Se a mãe está feliz em dar de mamar o tempo todo e não sente dor no mamilo (se o bebê pede toda hora e doem os mamilos, é provável que a pega esteja errada), e se o bebê se acalma assim, não há inconveniente. Pode dar de mamar todas as vezes e todo o tempo que quiser. Pode deitar na cama e descansar enquanto o filho mama. Mas claro, se a mãe está cansada, desesperada, farta de tanto amamentar, e se o bebê está engordando bem, não há inconveniente que diga ao pai, à avó ou ao primeiro voluntário que aparecer: “pegue este bebê, leve para passear em outro cômodo ou na rua e volte daqui a duas horas”. Porque se um bebê que mama bem e engorda normalmente mama cinco vezes em duas horas e continua chorando, podemos ter razoavelmente a certeza de que não chora de fome (outra coisa seria um bebê que engorda muito pouco ou que não estava engordando nada até dois dias atrás e agora começa a se recuperar: talvez esse bebê necessite mamar muitíssimas vezes seguidas). E sim, se pedir para alguém levar o bebê para passear, aproveite para descansar e, se possível, dormir. Nada de lavar a louça ou colocar em dia a roupa para passar, pois não adiantaria nada.

Às vezes, acontece de a mãe estar desesperada por passar horas dando de mamar, colo, peito, colo e tudo de novo. Recebe seu marido como se fosse uma cavalaria: “por favor, faça algo com essa menina, pois estou ao ponto de ficar doida”. O papai pega o bebê no colo (não sem certa apreensão, devido às circunstâncias), a menina apoia a cabecinha sobre seu ombro e “plim” pega no sono. Há várias explicações possíveis para esse fenômeno. Dizem que nós homens temos os ombros mais largos, e que se pode dormir melhor neles. Como estava há duas horas dançando, é lógico que a bebê esteja bastante cansada. Talvez precisasse de uma mudança de ares, quer dizer, de colo (e muitas vezes acontece o contrário: o pai não sabe o que fazer e a mãe consegue tranquilizar o bebê em segundos).



Tenho a impressão (mas é somente uma teoria minha, não tenho nenhuma prova) de que em alguns casos o que ocorre é que o bebê também está farto de mamar. Não tem fome, mas não é capaz de repousar a cabeça sobre o ombro de sua mãe e dormir tranqüilo. É como se não conhecesse outra forma de se relacionar com sua mãe a não ser mamando. Talvez se sinta como nós quando nos oferecem nossa sobremesa favorita depois de uma opípara refeição. Não temos como recusar, mas passamos a tarde com indigestão. No colo da mamãe é uma dúvida permanente entre querer e poder; por outro lado, com papai, não há dúvida possível: não tem mamá, então é só dormir.

Minha teoria tem muitos pontos fracos, claro. Para começar, a maior parte dos bebês do mundo estão o dia todo no colo (ou carregados nas costas) de sua mãe e, em geral, descansam tranquilos e quase não choram. Mas talvez esses bebês conheçam uma outra forma de se relacionar com suas mães, sem necessidade de mamar. Em nossa cultura fazemos de tudo para deixar o bebê no berço várias horas por dia; talvez assim lhes passemos a idéia de que só podem estar com a mãe se for para mamar.

Porque o certo é que a cólica do lactente parece ser quase exclusiva da nossa cultura. Alguns a consideram uma doença da nossa civilização, a consequência de dar aos bebês menos contato físico do que necessitam. Em outras sociedades o conceito de cólica é desconhecido. Na Coreia, o Dr. Lee não encontrou nenhum caso de cólica entre 160 lactentes. Com um mês de idade, os bebês coreanos só passavam duas horas por dia sozinhos contra as dezesseis horas dos norteamericanos. Os bebês coreanos passavam o dobro do tempo no colo que os norteamericanos e suas mães atendiam praticamente sempre que choravam. As mães norteamericanas ignoravam deliberadamente o choro de seus filhos em quase a metade das vezes.



No Canadá, Hunziker e Barr demonstraram que se podia prevenir a cólica do lactente recomendando às mães que pegassem seus bebês no colo várias horas por dia. É muito boa idéia levar os bebês pendurados, como fazem a maior parte das mães do mundo. Hoje em dia é possível comprar vários modelos de carregadores de bebês nos quais ele pode ser levado confortavelmente em casa e na rua. Não corra para colocar o bebê no berço assim que ele adormecer; ele gosta de estar com a mamãe, mesmo quando está dormindo. Não espere que o bebê comece a chorar, com duas ou três semanas de vida, para pegá-lo no colo; pode acontecer de ter “passado do ponto” e nem no colo ele se acalmar. Os bebês necessitam de muito contato físico, muito colo, desde o nascimento. Não é conveniente estarem separados de sua mãe, e muito menos sozinhos em outro cômodo. Durante o dia, se o deixar dormindo um pouco em seu bercinho, é melhor que o bercinho esteja na sala; assim ambos (mãe e filho) se sentirão mais seguros e descansarão melhor.


A nossa sociedade custa muito a reconhecer que os bebês precisam de colo, contato, afeto; que precisam da mãe. É preferível qualquer outra explicação: a imaturidade do intestino, o sistema nervoso... Prefere-se pensar que o bebê está doente, que precisa de remédios. Há algumas décadas, as farmácias espanholas vendiam medicamentos para cólicas que continham barbitúricos (se fazia efeito, claro, o bebê caía duro). Outros preferem as ervas e chás, os remédios homeopáticos, as massagens. Todos os tratamentos de que tenho notícia têm algo em comum: tem de tocar no bebê para dá-lo. O bebê está no berço chorando; a mãe o pega no colo, dá camomila e o bebê se cala. Teria seacalmado mesmo sem camomila, com o peito, ou somente com o colo. Se, ao contrário, inventassem um aparelho eletrônico para administrar camomila, ativado pelo som do choro do bebê, uma microcâmera que filmasse o berço, um administrador que identificasse a boca aberta e controlasse uma seringa que lançasse um jato de camomila direto na boca... Acredita que o bebê se acalmaria desse modo? Não é a camomila, não é o remédio homeopático! É o colo da mãe que cura a cólica.

Taubman, um pediatra americano, demonstrou que umas simples instruções para a mãe (tabela 1) faziam desaparecer a cólica em menos de duas semanas. Os bebês cujas mães os atendiam, passaram de uma média de 2,6 horas ao dia de choro para somente 0,8 horas. Enquanto isso, os do grupo de controle, que eram deixados chorando, choravam cada vez mais: de 3,1 horas passaram a 3,8 horas. Quer dizer, os bebês não choram por gosto, mas porque alguma coisa está acontecendo. Se são deixados chorando, choram mais, se tentam consolá-los, choram menos (uma coisa tão lógica! Por que tanta gente se esforça em nos fazer acreditar justo no contrário?).



Tabela 1 – Instruções para tratar a cólica, segundo Taubman (Pediatrics 1984;74:998)
1- Tente não deixar nunca o bebê chorando.
2- Para descobrir por que seu filho está chorando, tenha em conta as seguintes possibilidades:
a- O bebê tem fome e quer mamar.
b- O bebê quer sugar, mesmo sem fome.
c- O bebê quer colo.
d- O bebê está entediado e quer distração.
e- O bebê está cansado e quer dormir.
3- Se continuar chorando durante mais de cinco minutos com uma opção, tente com outra.
4- Decida você mesma em qual ordem testará as opções anteriores.
5- Não tenha medo de superalimentar seu filho. Isso não vai acontecer.
6- Não tenha medo de estragar seu filho. Isso também não vai acontecer.

No grupo de controle, as instruções eram: quando o bebê chorar e você não souber o que está acontecendo, deixe-o no berço e saia do quarto. Se após vinte minutos ele continuar chorando, torne a entrar, verifique (um minuto) que não há nada, e volte a sair do quarto. Se após vinte minutos ele continuar chorando etc. Se após três horas ele continuar chorando, alimente-o e recomece.

As duas últimas instruções do Dr. Taubman me parecem especialmente importantes: é impossível superalimentar um bebê por oferecer-lhe muita comida (que o digam as mães que tentam enfiar a papinha em um bebê que não quer comer); e é impossível estragar um bebê dando-lhe muita atenção. Estragar significa prejudicá-lo. Estragar uma criança é bater nela, insultá-la, ridicularizá-la, ignorar seu choro. Contrariamente, dar atenção, dar colo, acariciá-la, consolá-la, falar com ela, beijá-la, sorrir para ela são e sempre foram uma maneira de criá-la bem, não de estragá-la.



Não existe nenhuma doença mental causada por um excesso de colo, de carinho, de afagos... Não há ninguém na prisão, ou no hospício, porque recebeu colo demais , ou porque cantaram canções de ninar demais para ele, ou porque os pais deixaram que dormisse com eles. Por outro lado, há, sim, pessoas na prisão ou no hospício porque não tiveram pais, ou porque foram maltratados, abandonados ou desprezados pelos pais. E, contudo, a prevenção dessa doença mental imaginária, o estrago infantil crônico , parece ser a maior preocupação de nossa sociedade. E se não, amiga leitora, relembre e compare: quantas pessoas, desde que você ficou grávida, avisaram da importância de colocar protetores de tomada, de guardar em lugar seguro os produtos tóxicos, de usar uma cadeirinha de segurança no carro ou de vacinar seu filho contra o tétano? Quantas pessoas, por outro lado, avisaram para você não dar muito colo, não colocar para dormir na sua cama, não acostumar mal o bebê?

Lee K. The crying pattern of Korean infants and related factors. Dev Med Child Neurol. 1994; 36:601-7
Hunziker UA, Barr RG. Increased carrying reduces infant crying: a randomized controlled trial. Pediatrics 1986;77:641-8
Taubnan B. Clinical trial of treatment of colic by modification of parent-infant interaction. Pediatrics 1984;74:998-1003

Do livro Un regalo para toda la vida- Guía de la lactancia materna,Carlos González

Tradução: Fernanda Mainier
Revisão: Luciana Freitas



Copiado daqui
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Descrições das cesáreas e partos

Quando a cesárea é boa, foi 'tranquilíssima', 'rapidíssima', 'sem dor'.
Quando o parto é bom, foi 'maravilhoso', 'empoderador', 'transformador', 'emocionante', 'sensacional', 'inacreditável'.

Compara, vai.
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As linhas tortas do desenvolvimento

Uma idéia completamente errada que temos é que o desenvolvimento das crianças é linear, previsível, sempre 'para frente' e dirigida pelos pais.

Não, o desenvolvimento não é linear. A melhor descrição são saltos; vai de dia em dia, pouco a pouco, e de repente da noite para o dia acontecem mudanças drásticas - e imediatamente antes poderiam ter episódios de 'regressão'. Três passos para frente, um para trás. Os bebês não crescem conforme o que queiramos, o que podemos é perceber certos tempos e gentilmente modificar alguns pequenos detalhes.

'Ensinar' a dormir de noite, dormir sozinho e a noite toda, 'ser independente' (seja lá o que isso signifique), mamar menos, ter rotina é simplesmente perda de tempo! Uma 'vitória' do seu jeito de ver hoje não diz nada do dia de amanhã, porque o desenvolvimento não é retilíneo; uma noite no berço não dá nem margem de garantia de que amanhã será levemente parecido.

(procure mais sobre saltos de desenvolvimento e mamadas no GVA)


Nosso papel como pais não é ter um bebê 'perfeito' aos olhos dos outros. É respeitar o ritmo próprio, é protegê-los do mundo insensível e competitivo pelos primeiros anos da infância. É limpar o caminho para que nossos filhos se desenvolvam: aprender a não atrapalhar e não deixar que atrapalhem.

Esqueça, bebês pequenos mamam várias vezes à noite, acordam, e tem um ritmo próprio - aceite isso. Eles se tornarão adultos sozinhos, não interessa o que você faça, provavelmente quebrar o ritmo só irá atrapalhar mais. Nenhum adolescente saudável reclama por ficar sozinho em casa sem os pais. Ninguém mama até os 18 anos. Ninguém chega na faculdade sem saber diferenciar noite do dia. Todos são feitos naturais, não se 'ensina' simplesmente. Podem ser levemente estimulados, mas não ensinados - interferir nos ciclos de desenvolvimentos é uma afronta ao desenvolvimento.

Não posso acreditar que ficar sem colo, ser ignorado, não ter seus sentimentos respeitados faça adultos melhores. Não posso acreditar que uma criança é mais inteligente por descobrir que não pode contar com nenhum adulto para ampará-la. Se não quisesse ter trabalho, comprasse uma samambaia.
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Os percentis

Todo mundo que tem filho já conhece as tabelas de crescimento. Se você não estava no planeta nas últimas décadas, pode conhecê-las aqui. Mas, a pergunta que vem é, como elas foram criadas? E como devem ser interpretadas? O que é um percentil, caracas?

Eu já tive alguma pouquíssima estatística na minha vida. Para mim aquilo é coisa de maluco, principalmente na hora que eu tinha que afirmar que 176 é igual a 183 (com margem de erro de x%). Oi?

Sei que eventos aleatórios independentes tendem a ter uma distribuição normal na população, isto é, tem um valor que ocorre mais, quanto mais se distancia desse valor menos ocorrências temos. Uma 'ondinha', mais alta, mais gorda, depende do evento - note que a 'onda' NUNCA encosta no eixo X, isto é, o número de ocorrências nunca vai ser zero. No google, achei esse e esse link que podem explicar.


Se pegarmos a altura de meninas de exatos 2 anos sob certos critérios (saudáveis, amamentadas exclusivamente no peito até 6 meses, etc e tal) e distribuir nesse gráfico - nº ocorrências vs altura, perceberá que a 'crista' fica no 85.6cm, e as quantidade de ocorrências das demais alturas vão diminuindo progressivamente. Explicando de outra maneira, 50% estão na linha mediana ou do lado direito; 50% estão na linha mediana ou do lado esquerdo. 





Também não é muito difícil determinar as outras linhas: uma para 5%, para 10%...95%. É apenas um xunxo gambiarra artifício técnico com ajuda de umas tabelas mirabolantes dessas (não ousem me pedir para lembrar).

Tá, lindo - você pensa. Mas as tabelas que vemos não tem NADA a ver com essas. Pense, ter uma tabela de ondinha dessas para cada dia da vida da criança seria uma afronta ao meio ambiente, então elegeu-se uns pares de 'percentis' e se desenhou todos num gráfico, mais ou menos assim:


Ali representamos os percentis 3, 15, 50, 85, 97. É fácil pensar só na linha verde, o percentil 50 (a linha mediana). Eles pegaram os valores da linha mediana em todas as ondinhas, e desenharam a curva; e o mesmo procedimento para todos os outros percentis. 

Se seu filho tem o peso exatamente na linha '15th', quer dizer que 15% das crianças saudáveis tem o peso dele ou menos. Gente a beça, diga-se de passagem. 

Sobre a interpretação da tabela, leiam esse tópico no orkut, esclarecedor.




Das perguntas e do tempo

Leonardo tem quase 1 ano e 5 meses. Seguindo os passos do irmãozão, se interessa agora pela linguagem, repetindo palavras simples e curtas. Mas Leonardo fala leonardês fluente, boa parte do dia. E o mais incrível é que certas vezes é claríssimo o que ele diz 'quero aquele' ou 'olha o que tem ali'; as perguntas são um capítulo à parte, a entonação perfeita. O tatibitate dele é perfeito, completo, pena que só entendo o significado raramente.

Gabriel tem quase 5 anos, uma idade concreta. Misto de papagaio com vitrola, engoliu tudo isso antes dos 3 anos e nunca mais ficou quieto, uma espécie de doença geneticamente transmissível. Fala, fala, fala, e nos intervalos, fala mais um pouquinho para descansar. Biel sabe os conceitos de passado, presente e futuro, representados por ontem, hoje e amanhã; explicações para ele são dispensáveis e inúteis, ele é enfático em afirmar 'amanhã é OUTRO DIA, outro dia é amanhã!'. Uma verdade absoluta e linda, diga-se de passagem.

As crianças sabem falar a própria língua e viver no próprio tempo.
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Artigo maravilhoso sobre sono

http://guiadobebe.uol.com.br/bb1ano/a_natureza_do_sono_do_bebe.htm

Claro, elaborado pela Andréia
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Plástica e amamentação

Para E.



Se eu só pudesse escolher um adjetivo para seu caso eu diria: emblemático.


A maior parte das mulheres que vemos hoje - na nossa sociedade - tem problemas na amamentação. Por problemas eu digo uma greve de mamá do bebê, um choro (a cuidadora acredita) de 'fome', peito 'vazio', bebê que não engorda que nem um bezerro, bebê que não consegue pegar corretamente, mastite.


Eu acredito sim que algumas mulheres de fato devem ter algum problema físico, mas... hoje, olhando no balaio, a gente quase pode ver os erros se repetindo continuamente. Amamentação É um truque de confiança. Somos treinadas para ver como 'normal' dar mamadeira, não querer amamentar. Mitos como 'leite fraco' ou 'pouco leite' ou 'não consegue amamentar'. Somos acostumadas ao fato que somos defeituosas.


Um parto é mais fácil de conseguir que amamentação exclusiva 6 meses, e amamentação até 2 anos. Um parto pode ter sorte, pode ser 'o parto do ano' daquele médico. Os 10%, lembra? Agora amamentação é necessário muita força de vontade e autoafirmação. Força para acreditar que o peito é o suficiente, que produz o tempo todo, a cada vez que é sugado. Que sempre é possível produzir mais leite com indução adequada. Que seu filho não é magro, que não está doente, que você não é irresponsável. Que um 'cházinho' ou 'mucilon' faz sim mal.


Vai ouvir um monte de idiotices meses a fio. Passará por dias que se perguntará se aquilo está certo, por que o bebê chora, será fome? Sim, haverão dias que tudo parece perdido, e um ombro amigo faz uma diferença abissal.


E por que digo tudo isso? Amamentação não é trivial. É verdade que as as cirurgias plásticas nos seios (até onde sei, a técnica empregada até uns 15 anos atrás principalmente) podem até causar problema na saída do leite, mas para mim também tem sido acusadas sem muitas provas. Afinal, para que tentar descobrir e ajudar de fato a amamentação se a plástica pode ser usada como bode expiatório? Amamentação é 80% cérebro e 20% peito.


E vamos dizer que a tua plástica de algum modo danificou de fato os dutos ou a saída do leite. Então, durante os primeiros dias, você poderá extrair leite, usar o kit de relactação e verificar a quantidade de LM produzida. É, paciência, calma, e muita assistência. Mas para tudo nessa vida dá-se um jeito, né? Se eventualmente (se se se se) for necessário complementar, dar o complemento na mamadeira é o caminho mais rápido para o desmame precoce.

Recomendo a você dar um pulo lá no GVA. Sei que a moderadora Andréia fez mamoplastia e teve duas amamentações super bem sucedidas. Dicas dicas e dicas, certamente ela te ajudará ;)

A amável gestação

Para C.



Tem umas pessoas sem noção nessa vida. Ou com amnésia seletiva. E eu amo falar sobre mais variados sintomas da gestação - as pessoas evitam falar, e as gestantes se sentem únicas. Já descrevi que gravidez é uma coleção bizarra de sintomas aleatórios. Fiz uma pequena relação do que já vi:


Salivação excessiva ou diminuída, enjôo, náusea,  estômago 'apertado', gases, arrotos, prisão de ventre, hemorróidas, fomes 'repentinas' e instantâneas, vontade de comer coisas cítricas, gosto 'ferroso' na boca, azia, aumento ou diminuição do apetite, mudanças nos gostos alimentares (depois do nascimento, ainda podemos passar meses odiando certos cheiros). Micção em 'gotinhas', candidíase, infecção urinária, cólicas uterinas, aumento ou diminuição da libido, aumento da lubrificação vaginal, varizes vulvares, seios produzirem colostro, escurecimento da auréola do seio, seios inchados. Tontura, queda de pressão, diminuição da imunidade,  dor nas costas, nas costelas, sono (muuuuuito sono) ou insônia, fraquezas, dor de cabeça, inchaço,  olfato aguçado, irritabilidade, pre-disposição a chorar (rs), formigamento nas mãos, cãimbras, dificuldade de respirar, cansaço, maior ou menos sensibilidade à dor.

E ainda por cima a grávida pode ficar mais distraída, esquecida, desligada. Dizem por aí que os neurônios migram todos para a placenta, vá saber.


Isso que nem entrei nos detalhes dos dias pré-nascimento, que incluem vontade de faxinar, ansiedade, medo, diarréia, vômitos e a saída do tampão mucoso do colo do útero (numa quantidade meio absurda, diga-se de passagem). A bolsa d'água tb não é pequeninha.



Mas depois que nasce... ah, tudo vale tanto a pena! E você embarca de novo, e tem outra gravidez surpreendentemente diferente.
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Mais inteligente?

Existe uma série de estudos que parecem ligar o fato de ser amamentado ao QI mais alto na infância.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/05/080506_amamentacaointeligencia_fp.shtml
http://notexactlyrocketscience.wordpress.com/2007/11/05/metabolic-gene-and-breastfeeding-unite-to-boost-a-child’s-iq/
http://www.portaldafamilia.org/scnews/news091.shtml
http://revistavivasaude.uol.com.br/Edicoes/56/artigo68044-1.asp

QI é um teste de capacidade lógica. Não, não é um teste de inteligência, a nossa inteligência é um conceito relativo demais para um teste trivial como o QI conseguir mensurá-la. Muitos desses estudos não levavam em conta QI da mãe, ambiente socio-cultural familiar e similares; mas aparentemente, mesmo fixando essas variáveis, a diferença de QI ainda é notável nas crianças com determinada versão do gene (uns 90%).

O que absolutamente faz sentido. Não muda a vida de ninguém, né, mas pelo menos corta esse papo de 'ah, leite artificial é melhor que o natural'.
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Mamadeira não é mamá

 ou porque não queremos eufemismos
Para D.


Tem um troço que irrita até os pelinhos da nuca é esse lance de suavizar o que não deve ser suavizado. Amamentação só tem de um jeito, é in natura. É boca no peito e leite na boca, tão trivial quanto só a mamiferidade tem conseguido. Desculpe os homens, mas homem não dá mamá, dá leite: leite humano, leite artificial; no copinho, na seringa, no copo de vidro, e até na desastrosa mamadeira - mas nunca amamenta. Não tem menos pai - não gesta, não pare, não amamenta.

Do leite ordenhado

Para começo de conversa, ordenhar o leite é realmente bem mais complicado do que parece. Sim, não há bomba mais poderosa e perfeita que a boca do bebê: ela produz o leite na hora, uma fábrica on-demand, que produz sempre mais se assim requerido. A sucção do bebê é mais eficiente e eficaz, de maneira que ordenhar leva mais tempo e ainda extrai menos leite.

O leite humano é produzido em fases, digamos assim. O leite do começo é ralo, quase cinzento, rico em anticorpos, água e lactose; quanto mais o bebê extrai, mais gorduroso e amarelado vai se tornando o leite. O bebê ricamente pode escolher o tanto que necessita de cada leite, pedindo o leite a intervalos maiores ou menores, mamando mais ou menos tempo. Quanto extraimos o leite, fica tudo 'homogeneizado', e se perde esse rico balanço. Se tirar o leite do começo já não é fácil, imagine tirar o leite gorduroso do fim. Um bom empenho. Tirar o leite requer um tempo que não precisamos gastar quando temos o bebê ao alcance do peito.

Ao extrair o leite, temos que tomar uma gama de cuidados absurdos com higienização e congelamento. O leite não pode se contaminar, preocupação inexistente na embalagem original. Também o pote de armazenamento deve ser de vidro, pois o plástico absorve a gordura - diminuindo o valor calórico.

Tirar o leite requer uma boa gama de condições: vidros esterelizados, paciência, calma, relaxamento, privacidade, gelo, bolsa térmica, congelador. Eventualmente, uma bomba elétrica. Mas, com todos esses 'contras', é muito muito superior ao leite artificial.

O peito conforta, acalenta, acalma e estimula o desenvolvimento dos músculos faciais e atende à necessidade de sucção (inclusive não-nutritiva). Da maneira como a amamentação se faz, não encontramos maior incidência nem de otites de repetição nem de cárie do lactente. Um combo master-plus-plus sob medida.

Leite do peito nunca precisa esquentar, esterilizar, guardar, congelar. Ele está lá, pronto para ser fabricado a qualquer hora. Além de ser mais ecológico, vamos combinar. Porém leite humano ordenhado é simplesmente a melhor solução de todas depois do leite humano na embalagem original.

Da mamadeira
Acho que mamadeira deveria ser sei lá, proibida a venda. Ou vir com um selo 'essa tranqueira só serve para viciar a criança, desmamar e dar cáries'. Não entendo, não imagino porque associar bebê a mamadeira. Já não basta não ser no peito, já não basta ser leite artificial, ainda por cima ofertar numa geringonça que irá confundir o bebê? Fora que se tem o péssimo costume de deixar os bebês sem ajuda a tomar líquidos, pior ainda se deitados. Meio surreal.

Sim, bebê sugam mais na mamadeira. Lembra a necessidade de sucção? É, eles sugam simplesmente mais do que eles poderiam ou deveriam. Serve para que? Para que seja depois uma sessão tirar; com 4~6 anos, uma novela mexicana para tirar a mania de tomar líquidos no 'mamá' ou 'dedê'.

Dá pra viver uma vida toda sem mamadeira sem prejuízo. Tantas maneiras de ofertar líquidos. Copinhos de transição com vedante, sem vedante, seringa, copo de vidro, copo de cachaça, sonda de relactação, colher, mamadeira-colher.

Não interessa o que se diga, na GVA é real a quantidade de bebês que desprezam o peito depois de apresentados à mamadeira, por 'preguiça' de sugar o leite do fim ou similar. E perguntam, o copinho é de sugar tb, por que não desmama? Eu não sabia responder até que... vi um nenê de perto usando mamadeira. A sucção é realmente MUITO parecida com o que o bebê faz ao mamar, certamente o estímulo prazeiroso está ali presente. Plástico por plástico, me parece mais razoável a chupeta que a mamadeira. Pelo menos tem um propósito real, de satisfazer a sucção não-nutritiva.

Nem me venham com esses diminutivos apaziguadores. Dar leite, alimentar NÃO É dar mamá, que dirá amamentar.
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Slings, slings e slings

Já cheguei à conclusão que sou sling-addicted, sou uma menAs mãe sem sling. Todas as vezes que resolvi ir ao mercado sem ele porque 'o bebê já está tão grande', meu pequeno ogro resolve pedir colo até o fim dos tempos. Sim, ele anda bem. Mas só quando quer, né! Carregores de pano se tornam uma extensão tão normal do corpo de mãe que não imagino como as outras pessoas conseguem ficar sem.

O sling NÃO É simplesmente um pedaço de pano e umas argolas. Sling é coisa séria, e precisa ser seguro. Nesse site tem muitas informações de qualidade - sobre o tecido, a costura e as argolas. Friso muito a atenção ao novo post , que explica que BABY BAG NÃO É SLING! Repito, baby bag não é sling, sling não é baby bag.

Repassem. SLING NÃO PRECISA SER INSEGURO.
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O que penso do dia da mulher

Vou publicar esse texto propositalmente depois do dia 08/03, para que as pessoas que sentem vontade de desejar 'feliz dia das mulheres' não fiquem envergonhados. Não tenho dúvidas que sim, mulheres ainda tem muitas lutas pela frente.


É uma comemoração morna. É, para mim, ogrisse (é, o ato de ser ogro!) essa coisa de 'eu amo mulher'. Não, criatura, não quero saber se vc é heterossexual, eu tb sou e isso não importa. Odeio essas ogrisses. 'Aquela gostosa' é uma mulher, não uma vagina ambulante; alguém que tem vida, história e emoções. 'Aquela que vc comeu' não é tua propriedade, tão pouco alguém que compartilhou momentos com você. Mulher não é escambo nem trofeu, é companheira. Bundas, seios e decotes são uma das facetas de um ser humano único, que merece respeito.


Vou falar do que me atinge mais diretamente: filhos. O que vc faz? Entre contratar uma mulher que pode ter filhos e um homem que pode ter filhos, com quem vc fica? E você cuida dias e dias do bebê de madrugada ou o 'instinto materno' é melhor? Você vai no pediatra, no pronto-socorro, dar banho, ou é muito 'desajeitado'? Quem tem que lavar a roupa, o banheiro, cozinhar? De que adianta falar 'feliz dia das mulheres', com rosas poemas mil, e... não dividir em 50/50 as lides domésticas? Ou contratar uma mulher com medo que ela engravide?

É desleal de todos os modos. Não há razão para pensar de outro modo, a sociedade só mudará se cuidarmos muito bem das próximas gerações. E cuidar, implica em não ser omisso, em estar presente tanto quanto possível ou desejável. Para qualquer pessoa que estude minimamente o desenvolvimento humano, percebe que o bebê se beneficia enormemente ao ficar em casa com a mãe ou o pai até uns 3 anos. Mas essa não é a realidade como um todo, e cada família se adequa a sua realidade própria.

Isto é, todos sabemos que o bebê fica melhor se em contato com a mãe; que a sociedade só melhorará assim. E... ainda oprimimos a mãe que trabalha e deseja ter filhos, deseja o melhor para seus filhos? Hipocrisia pouca é bobagem.

E o pai? Cadê ele nas consultas pediatricas, nas noites insones, nas alimentações, nas estadias em casa por conta de resfriados? Os homens são tão burros assim que não possuem capacidade de ficar com seus filhos? Nego a acreditar. Por que um pai é melhor visto profissionalmente que uma mãe?

Eu luto por uma sociedade em que os direitos de gestar, parir e maternar sejam sagrados. Para aquelas que assim desejarem.
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Dispenso a rosa

http://www.cassunca.com/2010/03/dia-internacional-da-mulher.html

Por Marjore Rodrigues
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Direito ao acompanhante no parto

Ao se internar na maternidade mais próxima, cheia de contrações, parturiente é informada que tem que tirar suas roupas, brincos, anéis e qualquer rastro de identidade que eventualmente quissesse levar.

Já vai apavorada, mas agora irá passar por uma sequência bizarra de intervenções de caráter duvidoso, como explico aqui.  E terá que enfrentar tudo sozinha, sem apoio emocional ou qualquer pessoa que conheça ao seu lado. Quisera eu fosse uma ficção, mas é isso mesmo que acontece hoje. Pior, há uma lei com quase 5 anos de idade que garante o direito de acompanhante à escolha da parturiente durante todo o processo.

Essa lei é ignorada. Se alguma parturiente pergunta, as maternidades falam que não possuem espaço, ou não possuem separação entre os leitos - anos a fio. Dizem que somente mulheres podem entrar, ou que então obrigatoriamente tem que ser o pai da criança. Afirmam que só podem entrar segundos antes do parto, ou que os pais são 'frescos' e não suportariam. Ou que os acompanhantes só atrapalham, que é um ato médico e não um circo.

Se você acha bobeira, pense em sentir medo, pavor de morrer, uma dor frequente, uma fragilidade imensa, e ainda ter enfermeiras lhe falando que é bobeira. Ou não ter uma mão amiga e palavras de conforto.
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Direito ao acompanhante no parto: Mulheres denunciam ao Ministério Público descumprimento da lei

http://www.partodoprincipio.com.br/conteudo.php?src=release_Lei_do_acompanhante&ext=html




Eu sei que estou ausente, mas leiam esse texto. É super importante.

Em 2005 fui impedida de ter qualquer acompanhante no TP e parto. Alegaram que o hospital não havia se adequado, que as parturientes ficavam todas juntas.

Em verdade vos digo que o mesmo hospital, 5 anos depois, ainda não conseguiu 'se adequar'.

A lei é SISTEMATICAMENTE ignorada. Mulheres são desrespeitadas de todas as maneiras, inclusive em seu direito básico de ter apoio emocional. Leiam e denunciem.
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