Esses dias, em um dos inúmeros blogs que leio, caí aqui - sim, a coluna feminina é muito mais adaptada à gestação do que a masculina. Não é simplesmente... divino?
No livro 'Criando Bebês'[1] existe um belíssimo capítulo entitulado 'Como a evolução modelou nossos bebês'. Somos uma espécie cabeçuda, muito cabeçuda. Pior, somos cabeçudos e bípedes - nossos quadris sustentam todo nosso peso. São quadris mais fortalecidos, com ossos de apoio maiores - que limitam e 'entortam' muito o tamanho do canal de parto. As fêmeas de nossa espécie tem o quadril mais largo, mas não tão largo a ponto de deixar nossos passos bamboleantes.
Então, como fazer um bebê cabeçudo passar uma pelve estreita? Fazendo-o nascer antes, muito antes do que qualquer outro mamífero, numa fase em que sua cabeça ainda passa - mas que ele pelo menos têm condições mínimas de sobreviver externamente. Jogar no colo dos pais o bebê mais prematuro possível.
As últimas semanas da gravidez, a preparação do útero com suas contrações 'falsas'. A diminuição do líquido, o bebê que se mexe menos. Os hormônios que relaxam os ligamentos, a alteração de humor, as faxinas inexplicáveis.
O bebê humano nasce entre 37 e 42 semanas, contando a partir da data da última menstruação. Bebês que tem menos de 37 quando nascem (principalmente sem trabalho de parto) costumam apresentar uma série de probleminhas, como 'pulmão úmido', dificuldades de sugar. Logo, posso perceber claramente aí que a gestação tem esse tamanho por necessidade desse bebê, ele NÃO poderia nascer antes (na época das cavernas), ou invariavelmente morreria.
O parto é o evento divisor de água, e ali acho que todo o poder criador se faz presente: o ritmo, a dança. E então o trabalho de parto se inicia, e aquele fortíssimo colo do útero que lutou sozinho contra a gravidade a gravidez toda vai simplesmente desaparecendo... E a cabeça do bebê terá que passar pela sinuosa e estreita passagem de ossos, pouco a pouco.
É um processo, e mecanicamente os corpos se ajeitarão: a dor é o indicador da melhor posição. Temos que facilitar o processo para nós, para nosso bebê - e cada momento do trabalho de parto uma posição ajudará o processo. De cócoras, na bola, de lado, de bruços, rebolando. É a dança da vida, estamos ali para deixar nascer, para ultrapassarmos novamente o que a natureza pede a milhões de anos. Ficar de pé, ter cérebros grandes, essa é a razão para nosso parto longo.
O colo vai sumindo, e o dilúvio de hormônios é inebriante. Embebedamo-nos de amor, ocitocina, o hormônio do amor e do parto. Cochilamos, comemos, tudo é nebuloso. Se temos a oportunidade de nos aninharmos, tal qual os direitos dados às gatinhas, éguas e cadelas, podemos nos concentrarmos no nosso estado alterado. Se dadas condições no ambiente, nosso próprio corpo produz um pequeno coquetel de endorfinas.
A expulsão é outro momento inacreditável: agora o útero faz uma força descomunal para empurrar o bebê, já que o caminho está livre. O bebê faz a rotação, a sua cabeça molda-se para sua hora da verdade. Os músculos comprimem o bebê, que expele o líquido amniótico que estava em seus pulmões. O processo de parto ajuda o desenvolvimento do pequeno, imaturo bebê. Os hormônios do parto o ajudarão na transição para o mundo seco.
É tudo perfeito. Simplesmente pular esses processos, de parto natural, ativo e de amamentação é simplesmente negar todos os milhões de anos que os mamíferos estão sobre a Terra. Não posso acreditar que as necessidades de uma parturiente e bebê mudaram desde os tempos dos primeiros humanos.
Sobrevivemos até hoje por causa do parto e da amamentação. Fomos desenhados para esses processos, fomos desenhados por esses processos. Somos os eternos mamíferos, apenas mais cabeçudos e bípedes.
[1] Criando bebês - Dr. Howard Chilton
2 comentários:
Fantastico esse post!
bjinhus
Adorei! Instrutivo, criativo, engraçado...
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