Thaís Stella deu um show e colocou pra gente:
"Fico simplesmente fascinada com a proliferação de escolas construtivistas que existem por aí. Pena que metade delas nem sabe o que é construtivismo.
Pra começar: CONSTRUTIVISMO NÃO É UM MÉTODO! CONSTRUTIVISMO NÃO É UM MÉTODO! CONSTRUTIVISMO NÃO É UM MÉTODO! CONSTRUTIVISMO NÃO É UM MÉTODO!
Entender isso já resolve muita coisa.
Construtivismo é uma forma de enxergar a aprendizagem do aluno. Ela não se dá aos saltos, mas através de aproximações sucessivas.
O que isso significa, na prática?
Mariazinha precisa aprender a escrever. Para isso, ela precisa:
1- Entender que a escrita é usada em vários contextos, e tem uma importância social (faz parte do letramento)
2- Entender que escrevemos usando letras.
3- Entender que essas letras tentam representar a fala, e usamos letras diferentes para diferentes fonemas.
4- Entender que as letras não podem ser aleatórias, elas tem uma ordem determinada, cada pedacinho ajuntado de letras representa também um pedacinho daquilo que nós falamos (as sílabas)
5- Entender que, às vezes os fonemas e letras parecem não corresponder (ex: ao invés de caza, escrevemos casa)
Para nós, que já escrevemos, isso tudo parece ser uma coisa só. Mas não é. É um caminho construído devagarinho pela criança. No processo de aquisição de qualquer conhecimento, a criança pensa, elabora hipóteses, testa suas teorias... Se cada criança faz o seu caminho particular, questionando-se e avançando no conhecimento, não dá pra pensar em “método construtivista”. Justamente porque, nesse sentido, o construtivismo seria exatamente um anti-método! Método padroniza, o construtivismo tenta fazer o contrário disso.
Muitos colegas professores mais antigos, (que não entenderam o construtivismo) dizem que no construtivismo não tem avaliação, nem se pode corrigir o aluno. Não é verdade. No construtivismo, a necessidade de avaliar é maior ainda. Mas, enquanto a avaliação tradicional avalia pra classificar (quem é pior quem é melhor, quem tira 10 em tudo) o construtivismo avalia para entender.
(O que a Mariah está pensando quando escreve dessa ou daquela forma?) Não existe prêmio e castigo. Existe o mergulho no “erro”, em busca da hipótese da criança que gerou essa ou aquela resposta. Quando eu descubro o que a criança está pensando, posso mais facilmente fazê-la questionar-se em sua teoria e fazê-la avançar um pouco mais, em direção ao conhecimento socialmente aceito.
Exemplo: Mariazinha não tem nenhuma idéia a respeito da escrita. Eu peço que ela escreva “formiguinha”. Ela coloca: JU. Peço que ela escreva “cavalo”. Ela escreve: KHGRD. Se pergunto por quê ela colocou mais letrinhas no cavalo, ela diz: “Porque a formiguinha é pequenininha, precisa de poucas letrinhas, o cavalo é maior, precisa de mais letrinhas.”
Entendo, com essa resposta, que ela já aprendeu que usamos letras para escrever, mas tem a hipótese de que as letras estão associadas com o tamanho do objeto, e não com o som. E aí? Ela menina é 10, 9, 8, 7, 6?? Como reduzi-la a um número, como dizer que ela não sabe nada?
Nicole resolveu essa questão, e está em outra etapa da aproximação. Quando peço pra escrever formiguinha, ela escreve: DTAI. Peço que leia, ela coloca o dedinho debaixo das letras, e para cada letra, lê um pedacinho: (D)for- (T)mi-(A)gui-(I)nha.
Nicole sabe que escrevemos com letras, sabe que devemos regular a quantidade de letras, mas ainda não entendeu o critério de escolha das letras. Chamamos isso de hipótese silábica da escrita. Se deixadas em paz antes de serem forçadas a decorar “famílias silábicas”, a maioria das crianças passa por essa hipótese.
Marcelo escreve “formiguinha” assim: OIGA. Lê assim: (O) For – (I) Mi – (G) gui (A) nha. Ele já está usando as vogais certas para representar os sons. Pela lógica dele, o GUI deveria ter sido escrito com a letra I, mas aí ficaria repetido, e faz parte de sua hipótese que letras iguais não podem ser repetidas dessa forma.
Enfim, eu passaria horas escrevendo sobre isso, mas acho que já deu pra entender: o Construtivismo entende que, por trás daquilo que chamávamos “erro”, há um raciocínio complexo da criança, há uma reflexão. Ela não tira suas hipóteses do nada, são aproximações sucessivas que ela vai construindo, com a ajuda do professor e dos colegas... Se a gente entende que raciocínio é esse que cada criança está usando, podemos usar o estímulo certo para que ela avance melhor no seu processo de descoberta... "
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