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Das fases de desenvolvimento

Gabriel, como eu já previamente anunciei, já lê. Lê o que eu considero suficiente, escreve com vários erros ortográficos, mas com convicção. Seja por conta da alfabetização ou da idade, Gabriel parece que mudou completamente o seu foco.

É fato conhecido que crianças pequenas repetem. Repetem tudo à exaustão, repetem desenhos, imitam padrões, imitam adultos, imitam qualquer coisa que pareça imitável. Eu imagino que, como o cérebro está 'vazio' daquela cultura, eles fazem um esforço homérico de replicar, replicar, repetir, repetir, até decorar. Criancinhas pequenas decorariam com facilidade nomes de países, emblemas, sinais - se bobear, até tabuada eles decorariam sem entender nada do que aquilo significa. Decoram histórias, idiomas, palavras, trejeitos, expressões. Tudo meio descontextualizado para nós, mas para as crianças tudo está num emaranhado emocional denso.

Fato é que nos últimos meses tem acontecido uma mudança muito forte no jeito do Gabriel. Ele perdeu o padrão de repetição, o trabalho dele é todo focado em comparações, em abstrações. Não gosta de ficar assistindo e reassistindo episódios que já viu. Qualquer acontecimento gera uma cascata de explicações que tem se tornado cada vez mais elaboradas e 'próximas' da realidade. Embora não sejam verossímeis na vida real, tem uma lógica bem elaborada.

Alguns meses atrás comprei vários quebra-cabeças, incluindo um de 150 peças. Gabriel com maestria comparava cada peça com o desenho na caixa, tentando buscar os padrões de onde a peça deveria ser encaixada. Já Leonardo, ia no algoritmo de força bruta, tentando uma por uma das posições. Após 3 ou 4 montagens, quando já se meio que decora as posições, Gabriel desinteressou. Leonardo, por outro lado, se especializou e decorou a posição de cada uma das peças nas semanas seguintes. Interessante como um simples quebra-cabeças pode ser usado em tipos de aprendizados tão diferentes.

A criança SABE o melhor método para aprender o que precisa naquele momento. Bobeira tentar pular fases.

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